São Paulo, 05 de setembro de 2024.
Caros(as) cotistas e parceiros(as),
Sara Delfim, uma de nossas sócias fundadoras e membro da nossa equipe de gestão, em um evento recente lançou o que parecia uma charada: “No último ano, o Ibovespa subiu mais de 15%, sendo o melhor ativo no Brasil, e mesmo assim, hoje está mais barato que um ano atrás.”
Como isso é possível? Há várias formas de determinamos se o preço de um produto, um bem ou uma ação está caro ou barato. Para um produto, comparamos com outros itens similares, pensamos na utilidade dele em nossas vidas. Para um imóvel, calculamos o preço por m2 em imóveis ou regiões próximas.
Para uma ação, fazemos coisas similares. Podemos olhar para o valor de seus ativos, o valor calculado por seu fluxo de caixa ou até mesmo olhar para seus múltiplos. Na maioria dos casos, os analistas olham para o valor do múltiplo Preço/Lucro. Se uma ação sobe 15% em um ano, como ela pode ficar mais barata?
A resposta da charada da Sara é simples. Ela estava olhando o índice Preço/Lucro do Ibovespa, que caiu de 7,9x um ano atrás para 7,7x atualmente. Por essa métrica, apesar da alta da bolsa, os múltiplos de fato estão mais baratos. Afinal, as expectativas de lucro podem ser revisadas para cima e as empresas normalmente crescem com o tempo.
Subir ou não subir
Uma das principais discussões do mercado atualmente (ok, quase sempre essa é uma das principais discussões do mercado) é se o Banco Central Brasileiro (BCB) deveria ou não subir os juros na próxima reunião do Copom no dia 18/set. Há também uma preocupação sobre qual seria o impacto disso na bolsa brasileira.
Aqui, vale a pena refletirmos sobre alguns aspectos diferentes:
Em primeiro lugar, não há uma relação clara entre o aumento da taxa SELIC pelo BCB e um impacto negativo imediato no mercado de ações. Na tabela abaixo, listamos as 10 situações anteriores (desde 2000) que o BCB subiu juros, após mantê-los estáveis por um tempo e o que aconteceu com o Ibovespa na semana e nos 30 dias subsequentes:
Em segundo lugar, um dos motivos alegados pelos economistas para a alta da SELIC é que a economia está mais forte que o esperado, com a taxa de desemprego muito baixa. A preocupação é que essa combinação pode levar a um aumento da taxa de inflação. Por outro lado, para as ações, o crescimento econômico não é um evento necessariamente negativo. Pelo contrário. O gráfico abaixo mostra a relação entre as estimativas de receita do índice Ibovespa comparado com o crescimento histórico do PIB no Brasil. É impressionante a correlação!
O ponto aqui é que as taxas de juros mais altas podem ter impactos negativos no mercado, mas parte disso pode ser compensada pela atividade mais forte, refletindo em lucros mais altos.
Na discussão da Sara, uma das coisas que têm chamado a nossa atenção é como as estimativas de lucro, principalmente para 2025, têm sido revisadas para cima. O gráfico abaixo mostra um histórico de estimativas de lucro para o Ibovespa em 2024 e 2025.
Um último ponto. É bem provável, baseado nas expectativas de mercado, que o Fed (banco central americano) comece a cortar juros horas antes da decisão do BCB no dia 18/set. Aqui, o principal debate é sobre o tamanho do corte (25 ou 50bps) e qual a sinalização sobre a trajetória da política monetária.
Nas próximas semanas, dados de atividade econômica nos Estados Unidos devem determinar o tamanho do corte e o ritmo futuro. O gráfico abaixo mostra uma desaceleração no número de novas vagas de trabalho, mas ainda não podemos afirmar com certeza se é o suficiente para o Fed cortar 50bps.
Em suma, o mercado espera hoje um aumento entre 0,25% a 0,50% na próxima reunião do COPOM. Ainda não sabemos ao certo qual o impacto disso para as ações. Porém, se as expectativas sobre o combate à inflação e sobre a questão fiscal se ancorarem, poderemos ter um impacto positivo no mercado de ações.
O passado
Em agosto, os principais ativos de risco no mundo tiveram um desempenho positivo, apesar da alta volatilidade no mês. O anúncio do aumento da taxa de juros no Japão provocou uma reversão do carry trade global (posições que se beneficiam de diferenciais de juros entre países), gerando uma grande redução de risco. Porém, dados mais favoráveis corroboraram a narrativa de que a economia americana fará um pouso suave, com uma baixa pressão inflacionária, o que deve permitir que o Fed corte juros em setembro.
O futuro
Como falamos, as principais discussões do mercado têm orbitado em torno das decisões de política monetária nos Estados Unidos e no Brasil.
No Dahlia Total Return, elevamos o nível de risco do fundo, principalmente reduzindo algumas das posições compradas em dólar, por conta do nível de preços. O principal componente de risco continua sendo ações no Brasil, pois ainda enxergamos uma assimetria de valuation, com taxas de retorno na média em IPCA + 12%, e uma alocação muito baixa pelo mercado. Mantemos posições em ações nos EUA, principalmente no setor financeiro e de tecnologia, após uma redução em meses anteriores.
No Dahlia Global Allocation, reduzimos nossa posição comprada em dólar contra moedas de países emergentes, dado o nível de agosto. Mantemos posições em ações nos EUA, principalmente no setor financeiro e de tecnologia, após uma redução em junho/julho.
No Dahlia Ações, as alterações foram mais intra-setoriais. Entre os setores, as principais mudanças foram reduzir a exposição em setores cíclicos e aumentar a exposição ao setor de energia elétrica.
Agradecemos a leitura, a escuta e a confiança,
Equipe Dahlia
+55 11 4118-3148
CRÉDITOS FINAIS
Imagem: Dall-e
Tabela: Bloomberg e Dahlia
Gráfico 1: Bloomberg e Dahlia
Gráfico 2: Bloomberg e Dahlia
Gráfico 3: Bloomberg e Dahlia
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