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Sobre equilíbrios

São Paulo, 04 de julho de 2024.


Caros(as) cotistas e parceiros(as),


A física mecânica trata principalmente de dois tipos de equilíbrio: os estáveis e os instáveis. Em um equilíbrio estável, se o sistema for perturbado, ele tende a retornar ao estado de equilíbrio original. É como uma bola no fundo de uma tigela oval; se você a empurrar contra a parede, ela rolará de volta para o fundo.


Por outro lado, em um equilíbrio instável, se o sistema for perturbado, ele tenderá a se afastar ainda mais do estado de equilíbrio original. É como uma bola no topo de uma colina; se você a empurrar, ela rolará para cada vez mais longe.


Podemos fazer uma analogia com alguns aspectos da economia. Acreditamos que economias de diferentes países também podem apresentar equilíbrios estáveis e instáveis, por breves ou longo períodos.


Em finanças, a compreensão da existência desses equilíbrios é relevante por várias razões, mas é particularmente importante para um aspecto: fazer projeções. Para um analista projetando as estimativas de resultado de uma empresa, qual opção é a mais fácil? Projetá-las em um país em um equilíbrio estável ou em outro instável?


Normalmente em equilíbrio estável

A economia americana é considerada um equilíbrio estável devido a vários fatores estruturais e institucionais que permitem que ela se ajuste e se recupere de choques econômicos. Além dos fatores que já citamos várias vezes, a economia americana é dinâmica, menos regulamentada e muito inovadora, adaptando-se mais facilmente a novos cenários.


Um outro aspecto importante é que a política americana, com a alternância entre republicanos e democratas no poder, contribui para a manutenção do equilíbrio econômico estável do país. Essa alternância proporciona uma diversidade de abordagens políticas que, de forma complementar, promovem a resiliência e a adaptabilidade da economia. Por vezes, podemos achar que o pêndulo político vai muito para um lado, mas, assim como a bola no fundo da tigela, ele tende a voltar para o centro.


Estável até quando?

A economia da China é normalmente vista como um equilíbrio estável devido à forte intervenção do governo e ao planejamento centralizado que caracteriza seu modelo econômico. O Partido Comunista Chinês mantém um controle rigoroso sobre diversos setores da economia, utilizando políticas industriais estratégicas e investimentos em infraestrutura para promover o crescimento sustentado. Esse planejamento central permite uma resposta mais rápida caso haja um grande choque econômico, como a crise financeira de 2009.


Uma das maiores alavancas de crescimento do país nas duas últimas décadas foi o crescimento do setor imobiliário, que chegou a representar quase 25% do PIB. Porém, ao longo dos últimos três anos, o setor tem sofrido uma forte contração. Mesmo com essa desaceleração, a economia tem crescido a um ritmo perto de 5%, o que parece um equilíbrio estável. Mas, um choque externo, como uma nova disputa comercial contra os Estados Unidos, poderia levar a mais uma queda desse crescimento.


Embora o país tenha feito progressos significativos em termos de desenvolvimento econômico, vários desafios sociais persistem e podem rapidamente transformar o equilíbrio econômico em um equilíbrio instável. Esses desafios incluem desigualdade de renda, migração interna, direitos trabalhistas, envelhecimento da população e tensões políticas.


A repressão a dissidentes, a censura e as restrições às liberdades individuais podem gerar descontentamento na população. O crescimento econômico e a emergência de uma grande classe média foram até agora suficientes para contrabalancear esse potencial descontentamento. Mas um ambiente de crescimento mais lento e com nível de desemprego mais alto pode levar a um equilíbrio bem menos estável.


Fragilidade do equilíbrio

O Brasil tem experimentado períodos de equilíbrio econômico estável ao longo de sua história recente, mas esses períodos são frequentemente frágeis e vulneráveis a perturbações, especialmente diante de atitudes populistas dos governos.


A gestão fiscal é um dos principais desafios para a estabilidade econômica no Brasil. O país tem uma história de déficits fiscais elevados e crescimento da dívida pública. Em períodos de estabilidade econômica, as receitas do governo tendem a aumentar, permitindo investimentos em infraestrutura e programas sociais.


No entanto, políticas fiscais irresponsáveis, como aumento excessivo dos gastos públicos sem correspondentes aumentos de receita, podem rapidamente desestabilizar as finanças públicas. Nesse cenário, a dívida pública pode crescer de forma insustentável, levando a crises fiscais e necessidade de ajustes dolorosos.


Atitudes populistas no governo podem levar à implementação de políticas econômicas de curto prazo que visam ganhos imediatos em popularidade, mas que comprometem a sustentabilidade a longo prazo. Essas políticas podem gerar uma sensação temporária de estabilidade e bem-estar, mas frequentemente resultam em desequilíbrios econômicos graves. A inflação pode disparar, a confiança dos investidores pode cair e o crescimento econômico pode estagnar.


Os ciclos econômicos brasileiros são um testemunho dessa fragilidade. Durante os anos 2000, o Brasil experimentou um período de crescimento robusto impulsionado pelo boom das commodities. No entanto, políticas populistas e a falta de reformas estruturais deixaram o país vulnerável. A crise econômica de 2015-2016 evidenciou essa fragilidade quando a combinação de queda nos preços das commodities, crise política e descontrole fiscal levou a uma recessão profunda, aumento do desemprego e deterioração das contas públicas. Esse foi um exemplo de como um equilíbrio aparentemente estável pode rapidamente se tornar instável.


Será que o movimento recente do dólar significa que estamos no pico de um morro ou no fundo de uma tigela?


O passado

O mercado parece premiar mais economias estáveis e com mais crescimento. Não à toa, o dólar continua a se valorizar no mundo e as bolsas americanas seguem perto das máximas históricas. Um país com um equilíbrio estável demanda um menor prêmio de risco e os preços de seus ativos tendem a se destacar frente aos de outras regiões.


O futuro

Os mercados seguem na esteira dos dados econômicos nos Estados Unidos e seus impactos na taxa de juros. Ainda vemos uma economia forte, mas que mostra sinais de desaceleração. A desaceleração econômica em outras economias pelo mundo, ainda que gradual, chama a nossa atenção.


No Brasil, apesar de a inflação ainda estar contida, em parte por uma pressão baixista dos preços das commodities, decisões políticas têm impactado negativamente preços de vários ativos.

Seguimos com uma posição balanceada, mas com um nível de riscos acima do que consideramos neutro.


Agradecemos a leitura, a escuta e a confiança,


Equipe Dahlia

+55 11 4118-3148














CRÉDITOS FINAIS:

Imagem: Dall-e

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