São Paulo, 10 de abril de 2023.
Caros(as) cotistas e parceiros(as),
Evelyn escolheu o país certo para imigrar. Crescida em um vilarejo na China, resolveu fugir com seu namorado, para que pudessem se casar nos Estados Unidos. Por lá, tiveram uma filha e são donos de uma lavanderia, que está sendo auditada pela receita federal.
Os fardos do dia a dia, do constante fluxo de clientes e dos conturbados relacionamentos com seu pai, seu marido e principalmente com sua filha, Joy, fazem com que Evelyn frequentemente pense sobre como sua vida seria diferente se ela tivesse ouvido seus pais e continuado com sua vida na China.
Até que um dia, seu marido incorpora um agente de outra dimensão que está tentando salvar o mundo. Ainda em choque, Evelyn aprende que todas as decisões da nossa vida causam bifurcações, que continuam em universos paralelos.
Evelyn logo domina a técnica de saltar entre os diferentes universos e consegue observar e sentir como seria sua vida se suas decisões e as circunstâncias fossem diferentes. Mais ainda, ela consegue absorver todo o conhecimento que teve no mundo paralelo, para aplicá-lo no mundo atual.
Essa é a história por trás de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, o último ganhador do Oscar e um dos filmes mais premiados de todos os tempos. Evelyn é interpretada pela atriz malaia Michelle Yeoh, que ganhou o prêmio de melhor atriz. Seu marido, Waymond, é interpretado pelo vietnamita Ke Huy Quan, conhecido pelo garoto inventor Data de Goonies, que também ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante.
Até onde sabemos, não existem mundos paralelos, para onde podemos nos transportar e aprender habilidades novas. Porém, a história e os mercados seguem ciclos que se repetem e de onde podemos traçar paralelos valiosos.
Tudo
Crise Financeira: um dos principais eventos de março foi a queda dos bancos SVB (Silicon Valley Bank), nos Estados Unidos, e Credit Suisse, na Suíça. A alta de juros promovida pelo Fed, o banco central americano, entre 2004 e 2006, levou a uma crise do mercado imobiliário em 2008, impactando negativamente o balanço dos bancos. Desta vez, a resposta dos bancos centrais foi mais célere, mas não podemos descartar outros desdobramentos semelhantes aos vistos em 2008 no mercado nos próximos trimestres.
Inflação: o ritmo do aumento dos preços tem desacelerado nos últimos meses, em linha com nossas expectativas. Apesar disso, a inflação continua em níveis elevados (por volta de 6% nos Estados Unidos e no Brasil), que ainda demanda uma atenção dos bancos centrais. Porém, diferente de ciclos inflacionários mais duradouros, os preços das commodities estão mais baixos.
Juros: os principais bancos centrais do mundo ainda continuam aumentando os juros ou mantendo-os em um patamar elevado. Juros altos, depois de um longo período de juros baixos, podem ter impactos ainda não bem compreendidos nas economias.
Crescimento: Indicadores antecedentes de crescimento indicam uma desaceleração na economia global. Na contramão, a China talvez tenha um crescimento econômico mais forte, por conta da reabertura, após o relaxamento da política de COVID zero no final do ano passado. Contudo, essa recuperação tem sido limitada a alguns setores e não vimos uma forte aceleração da economia.
Em Todo Lugar
China: Houve muitas notícias de estímulos e reabertura desde o final do ano passado, incluindo apoio ao setor imobiliário, abertura das fronteiras e incentivos ao setor privado. Um dos riscos que observamos são os dados de crédito, que ainda não melhoraram conforme o esperado. Porém, seguimos otimistas com a recuperação da atividade econômica chinesa, impulsionada pelo consumo e por crescimento do crédito. O gráfico abaixo mostra, por exemplo, a recuperação do fluxo de passageiros nos metrôs das grandes cidades.
Estados Unidos: Parece ser o oposto da China, uma vez que a economia teima em não desacelerar. Porém, indicadores antecedentes apontam para uma desaceleração da economia mais forte nos próximos meses, levando a uma desinflação e um arrefecimento no mercado de trabalho. Será importante observar os próximos dados econômicos, principalmente os de inflação e de emprego. Achamos que o risco de os dados de emprego continuarem vindo abaixo das expectativas é elevado. Com esse cenário, achamos possível que o Fed pare de subir juros já nos próximos meses.
Apesar da alta das bolsas americanas após a queda do SVB, as condições financeiras nos Estados Unidos ficaram mais apertadas, o que pode levar a uma maior desaceleração da economia.
Brasil: O ruído político deve continuar elevado, ao menos até que as principais políticas que asseguram o arcabouço fiscal sejam aprovadas no Congresso e as regras tributárias fiquem mais claras. Porém, o anúncio do novo arcabouço fiscal trouxe mais surpresas positivas (limitador de expansão de gastos, crescimento de gastos baseados em superávit primário, sem exceções de gastos fora da regra) que negativas (expectativa muito alta de superávit primário nos primeiros anos, crescimento mínimo de gastos e investimentos). Isso deveria reduzir o risco de cauda da situação fiscal do país, como colocado pelo presidente do Banco Central.
O gráfico abaixo mostra uma projeção do banco UBS para a relação dívida/PIB do Brasil. No cenário de referência, as despesas reais crescem entre 0,5% e 1,0% ao ano, que poderia levar a uma estabilização da dívida em 2027. No cenário alternativo em vermelho, as despesas aumentam entre 1,5% e 2,5% do PIB, crescendo rapidamente. A expectativa de estabilização dessa dívida é um passo importante para a melhora do cenário doméstico no Brasil.
Ao Mesmo Tempo
Pelo que parece, Evelyn não é capaz de viajar no tempo. Ela incorpora sua vida atual nos universos paralelos. Quando olhamos para os mercados hoje, o pessimismo parece já refletido nos preços, nas manchetes dos jornais e nas conversas com colegas e clientes. Será que, em um exercício de futurologia, Evelyn poderia imaginar um universo menos pessimista nos próximos três meses?
Os próximos meses serão muito importantes, pois poderemos ver:
- Inflação nos Estados Unidos abaixo de 3% e próxima de 4% no Brasil;
- Contração no mercado de trabalho americano (non-farm payroll negativo);
- Preços de minério de ferro próximos a US$150/mt, com a aceleração do mercado imobiliário chinês;
- Uma safra recorde de grãos no Brasil, levando o dólar para baixo de R$5,00;
- Nova rodada de estímulos ao crédito na China;
- Fed parando de subir juros;
- BC começando a cortar juros (“Parei/Cortei”).
Tudo em todo lugar ao mesmo tempo. Quais seriam os preços que Evelyn estaria vendo?
O futuro
Ainda mantemos um posicionamento próximo ao neutro em nossos fundos. Se os dados e decisões políticas corroborarem um cenário menos negativo, temos um amplo espaço para elevar o risco das nossas carteiras. Se, por outro lado, o cenário continuar a se deteriorar, mantemos um portfolio balanceado, com proteções em commodities (ouro e petróleo) e juros.
Agradecemos a leitura, a escuta e a confiança,
Equipe Dahlia
+55 11 4118-3148
CRÉDITOS FINAIS:
Imagem: Shutterstock
Gráfico 1: Goldman Sachs
Gráfico 2: Chicago Federal Reserve
Gráfico 3: UBS
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