São Paulo, 06 de fevereiro de 2024.
Caros(as) cotistas e parceiros(as),
Vaclav Smil é um cientista e professor emérito na Universidade de Manitoba, no Canadá, cujo trabalho abrange uma ampla gama de áreas, incluindo energia, meio ambiente, alimentação, economia, história da ciência e políticas públicas. Nascido na Tchecoslováquia em 1943, Smil é um autor prolífico, tendo escrito mais de 40 livros e inúmeros artigos que analisam as interações entre energia, recursos naturais, tecnologia, e os rumos da sociedade humana.
Sua obra é caracterizada por sua abordagem interdisciplinar e seu compromisso com uma análise factual e quantitativa dos problemas. Ele é conhecido pela habilidade em sintetizar complexos conjuntos de dados e tendências em análises compreensíveis, oferecendo insights sobre como a humanidade pode navegar os desafios de sustentabilidade e desenvolvimento.
Uma das figuras mais influentes inspiradas por Vaclav Smil é Bill Gates, co-fundador da Microsoft e filantropo. Gates tem o citado como uma de suas principais fontes de informação sobre questões de energia e meio ambiente, frequentemente recomendando seus livros em seu blog pessoal e em entrevistas.
Como o mundo realmente funciona
"How the World Really Works" é um livro que desdobra a complexidade do mundo moderno através da lente de quatro pilares fundamentais: energia, alimentação, materiais e economia. Este livro destila amplas gamas de dados, pesquisas e análises em uma narrativa acessível, projetada para esclarecer como esses pilares interagem e moldam nossa realidade global.
Energia
O autor começa com uma exploração profunda da energia, argumentando que ela é a fundação de tudo na sociedade moderna. Ele detalha como a transição de fontes de energia renováveis para combustíveis fósseis transformou radicalmente a civilização, permitindo um crescimento populacional e econômico sem precedentes. No entanto, ele também aborda as consequências ambientais dessa dependência de combustíveis fósseis, sublinhando a necessidade urgente de transição para fontes de energia mais sustentáveis.
Alimentação
A seção sobre alimentação destaca como a agricultura moderna, impulsionada por avanços tecnológicos e o uso intensivo de fertilizantes e pesticidas, conseguiu alimentar uma população global crescente. No entanto, Smil não ignora os custos ambientais dessa produtividade, incluindo a degradação do solo, o uso excessivo de água e a perda de biodiversidade. Ele defende uma abordagem mais equilibrada que sustente tanto a população mundial quanto o planeta.
Materiais
O livro também examina como os seres humanos extraem, transformam e utilizam recursos naturais, desde metais até plásticos e concreto, para construir o mundo físico ao seu redor. Ele oferece uma visão fascinante da quantidade de materiais que consumimos e das implicações dessa demanda, tanto em termos de esgotamento de recursos quanto de impactos ambientais. A discussão sobre materiais é particularmente relevante no contexto de debates sobre economia circular e sustentabilidade.
Economia
Finalmente, a seção sobre economia aborda como as práticas econômicas e os modelos de crescimento influenciam o uso de energia, a produção de alimentos e o consumo de materiais. Smil critica a obsessão do mundo moderno com o crescimento econômico contínuo, argumentando que tal modelo é insustentável a longo prazo. Ele defende uma reconsideração de nossas prioridades econômicas, enfatizando a qualidade de vida e a sustentabilidade.
A energia no centro de tudo
Além de sustentar as funções quotidianas da sociedade, a energia desempenha um papel fundamental na definição das relações geopolíticas. O controle sobre as fontes de energia e as rotas de abastecimento têm sido um fator chave em conflitos internacionais, acordos comerciais e políticas externas. "A energia não é apenas uma questão de economia ou tecnologia; ela é, em muitos aspectos, a moeda do poder no palco mundial" Este ponto destaca a complexidade das questões energéticas e como elas se entrelaçam com a política, a economia e a segurança global.
No entanto, o autor também nos lembra da dualidade da dependência da humanidade a fontes de energia intensivas em carbono. "Embora combustíveis fósseis têm alimentado o crescimento sem precedentes e a prosperidade, eles também nos colocaram à beira de uma crise climática". Este dilema encapsula um dos maiores desafios da era moderna: como continuar a alimentar o motor da civilização sem comprometer a saúde do planeta.
A importância da energia para a vida da civilização atual vai além de uma simples questão de consumo. É uma questão de como equilibrar as necessidades imediatas da humanidade com a sustentabilidade a longo prazo do planeta. A energia é, portanto, não apenas o sangue vital da civilização moderna, mas também o campo de batalha no qual o futuro da humanidade será determinado. Este é o cerne da mensagem de Smil: a energia é fundamental não apenas para o nosso presente, mas crucial para o nosso futuro coletivo.
Por que isso importa?
A relação entre os preços da energia e os mercados financeiros é complexa e multifacetada, refletindo o papel central que a energia desempenha na economia global. Preços mais altos de energia têm implicações diretas e indiretas em quase todos os setores da economia, desde o custo de produção até o poder de compra do consumidor. Quando os preços da energia aumentam, eles podem elevar significativamente a inflação, uma vez que os custos mais altos são repassados aos consumidores na forma de preços mais elevados para bens e serviços. Este cenário inflacionário cria um ambiente desafiador para os mercados financeiros, já que a inflação erode o valor real dos retornos futuros, tornando os ativos financeiros menos atrativos para os investidores.
Diante de uma inflação crescente, impulsionada por preços mais altos de energia, os bancos centrais são frequentemente forçados a adotar políticas monetárias mais restritivas, como o aumento das taxas de juros, para tentar controlar a pressão inflacionária.
O gráfico abaixo mostra a relação entre a variação anual dos preços de commodities em reais e o IPCA:
Desde a pandemia até meados do ano passado, os mercados de commodities foram marcados por escassez. Guerras e outros conflitos geopolíticos acentuaram ainda mais esse movimento. Contudo, a engenhosidade e adaptabilidade dos seres humanos podem ter mudado essa figura.
Se passarmos de um mundo de escassez para um mundo de abundância energética, qual o impacto que isso pode ter nos mercados?
O futuro
Em janeiro, os principais ativos de risco no mundo tiveram uma desaceleração, depois de dois meses muito fortes no final de 2023. Além disso, o movimento de redução de risco foi impulsionado por um aumento da tensão geopolítica, com os conflitos no Oriente Médio e no Mar Vermelho, que fizeram o preço do petróleo subir. Nesse sentido, a bolsa de mercados emergentes caiu 6%, mas a bolsa americana subiu 1.3%, com a expectativa de uma economia mais forte.
Acreditamos que o movimento de desinflação do mundo deva continuar nos próximos trimestres, o que poderia incentivar um processo de corte de juros nas economias desenvolvidas.
Agradecemos a leitura, a escuta e a confiança,
Equipe Dahlia
+55 11 4118-3148
CRÉDITOS FINAIS:
Imagem: Dall-e e Dahlia
Gráfico 1: Bloomberg e Dahlia
Comments