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O ANTROPOCENO

São Paulo, 02 de setembro de 2021.


Caros(as) cotistas e parceiros(as),


Nunca, na história deste planeta, uma única espécie viva foi capaz de influenciar os fluxos naturais da Terra. Até recentemente.


Alguns cientistas acreditam que estamos vivendo o Antropoceno, a era dos humanos. Este sucederia o Holoceno, que se iniciou após o último período glacial, cerca de 12 mil anos atrás, marcado por um período de grande estabilidade ambiental.


Após a Revolução Industrial no séc. XVIII, a queima de combustíveis fósseis, a emissão de dióxido de carbono e diversas atividades humanas vem impactando diretamente a Terra e seu fluxo natural. Daí a necessidade de uma nova era (não por um grande feito positivo, infelizmente).


Cisnes verdes

John Elkington, autor inglês, cunhou em 1994 o conceito do Triple Bottom Line (“última linha tripla”). No mundo dos negócios, o bottom line se refere ao lucro líquido das empresas. Elkington inovou ao incluir as pessoas e o planeta como objetivos a serem perseguidos pelas empresas ao lado do lucro.


Em seu mais recente livro “Green Swans” (“Cisnes Verdes”), Elkington traz uma mensagem otimista. Nesta década, novos paradigmas e avanços da tecnologia levarão a uma profunda mudança de mercado (o cisne verde), gerando um progresso exponencial na forma de geração de riqueza econômica, social e ambiental.


Esse é o conceito que Elkington chamou de cisne verde: uma profunda mudança de mercado que oferece progresso exponencial na forma de geração de riqueza econômica, social e ambiental.


Vontade política, tecnologia e tempo

Apesar dos enormes desafios, a humanidade deve encontrar soluções para os problemas ambientais do planeta. O próximo passo do Antropoceno não será de destruição, mas sim de reparação ou regeneração.


Acreditamos que a vontade política, a tecnologia e o tempo apontam para uma luz no fim do túnel. E ela nos parece carregada de oportunidades.


Comecemos pela demografia. Estimamos que as gerações a partir dos millenials (nascidos após 1980) representem hoje 58% da população com poder de voto. Este número deve subir para 72% em 2030 e 85% em 2040. Além disso, nos próximos 20 anos, teremos a maior transferência de riqueza da história humana, na qual, estima-se, 68 trilhões de dólares serão herdados pelos millenials.


E por que isso importa? Uma pesquisa da consultoria Deloitte publicada este ano com quase 23 mil pessoas das gerações millenials e Z (nascidos após 1995) indicou que saúde, emprego e mudanças climáticas são as três principais preocupações dos respondentes. Antes da pandemia, o clima era disparado a principal preocupação desses jovens.


Com o aumento do poder econômico e político dessas gerações, é natural assumir que as próximas levas de políticos eleitos elencarão clima e meio ambiente como pontos chaves de suas agendas.


Além disso, vimos nos últimos anos um aumento signficativo dos gastos dos governos. Não acreditamos que estejamos perto do final desta expansão fiscal. Afinal, países que emitem sua própria moeda têm menor probabilidade de quebrar. Outros países, tentarão também. A Europa estima, por exemplo, que poderá emitir €480 bilhões em títulos apenas para financiar as reduções de emissão de gases de efeito estufa e outras metas ambientais.


Agora, será que teremos tecnologia para solucionar todos esses problemas? Gordon Moore é um dos fundadores da Intel, uma das maiores produtoras mundiais de semi condutores. Em 1965, Moore previu que a capacidade de processamento dos semi condutores iria dobrar a cada dois anos, o que ficou conhecido como a Lei de Moore. Esta lei se mostrou razoavelmente precisa desde então. É incrível imaginar que, nos próximos dois anos, o desenvolvimento da capacidade de processamento dos computadores deverá ser maior que a dos últimos 50 anos somados.


T.P. Wright foi um engenheiro aeronáutico americano e em 1936 já tinha feito uma previsão similar. Toda vez que a produção acumulada de um determinado bem dobra, o custo unitário de produção cai por um percentual constante. Nos últimos 20 anos, por exemplo, o custo de um painel solar caiu 96%, de US$5/W para US$0.2/W.


A combinação da lei de Moore com a de Wright indica que não só teremos avanços tecnológicos importantes, como também teremos uma queda singificativa de custos para produzir uma energia mais limpa, por exemplo.


A vontade política traz o dinheiro. A tecnologia, as soluções. Estas precisam de tempo para se desenvolverem, o que tem acontecido nos últimos anos. Como Elkington diz, mudanças exponenciais estão prestes a acontecer.


A nossa visão ESG

Na Dahlia, as dimensões ESG (Ambiental, Social e Governança) são parte integral de nosso processo de investimento. A integração ESG em nossos portfólios de ações reflete nossa cultura de avaliar empresas sob todos os aspectos do negócio e nossos valores como empresa e pessoas.


Quando compramos ações, nosso horizonte de investimento é sempre de longo prazo. Acreditamos que boas pessoas, bons negócios e tempo são grandes geradores de resultados. Analisamos os aspectos ESG das empresas de forma transversal, com maior enfoque no qualitativo, com olhar sobre o produto (o quê), o processo (como), o propósito (por que) e os resultados (quanto).


Uma outra forma que abordamos aspectos ESG em nosso processo decisório é encará-los como grandes temas de investimento. Por exemplo: ao estudar a emergência climática, fica muito claro o potencial de crescimento de energias renováveis. Exploramos isso investindo diretamente em empresas geradoras de energia limpa, mas também de outras formas.


Já falamos sobre o cobre, que se beneficia de uma maior eletrificação da mobilidade. Mas tem também o lítio e o vanádio, que são soluções para armazenamento de baterias de longa duração. Ou mesmo empresas que produzem ou instalam painéis solares. Ou fornecem equipamentos para as geradoras de energia renovável. Há diversas tendências que exploramos por acreditarmos que estão no caminho certo. Na “rota do cisne verde”.


A charge

A charge no início desta carta foi feita por um cartunista em 1991 para o jornal Financial Times. A ideia era representar que no futuro os conselhos das organizações teriam a voz da natureza (representada por um peixe), dos desfavorecidos (representados por uma mulher) e do futuro (representado por um robô).


Enquanto gestores de recursos, entendemos que podemos ter impacto nas empresas que analisamos e investimos. Reconhecemos também e assumimos nosso papel na transição para um mundo mais sustentável. Esperamos (e atuamos para) que esse futuro chegue logo!


O passado

A volatilidade dos ativos brasileiros continuou alta no mês de agosto. Apesar da alta da bolsa americana, o Ibovespa caiu 2,5%, por conta do cenário fiscal e maiores ruídos no cenário político. No lado externo, a manutenção de uma política acomodativa do Fed, banco central americano, manteve as bolsas em alta.


O futuro

Seguimos otimistas com o cenário externo e com o dinamismo das empresas brasileiras. A manutenção dos estímulos pelo Fed pode reduzir as preocupações do mercado com uma desaceleração abrupta da economia global. Os resultados das empresas continuam bastante fortes e podemos ainda ver revisões positivas, salvo alguns setores. Seguimos comprados em ações e no dólar.


Agradecemos a confiança,


Dahlia


contato@dahliacapital.com.br


+55 11 4118-3148



Créditos finais:

Charge: Ingram Pinn - arquivos de John Elkington (www.johnelkington.com)

Gráfico: International Energy Agency















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1 Comment


Unknown member
Sep 07, 2021

O que me faz cauteloso com o ESG, é a perda de perspectiva da razão de ser de um negócio: produto e lucros. O ESG parece um imenso Espelho de Ojesed, irresistível em todo bem que anuncia. Mas como não estar-se preso por vontade; já que como dantes: "agora é diferente".

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