São Paulo, 04 de maio de 2021.
Caros cotistas, investidores e parceiros,
Muitas vezes, a gente só sente uma coisa quando ela dói em nosso bolso. A inflação dos últimos 12 meses terminados em março, medida pelo IPCA, foi de 6,1%. Porém, uma das coisas que mais chama atenção é a concentração de produtos de commodities, puxando esta lista.
O óleo de soja (+82%), o arroz (+64%) e o limão (+62%) estão no topo. Outros itens mais relevantes como carnes (+31%) e gasolina (+23%) também foram destaques de alta.
Todos os itens acima pertencem ao grupo de commodities¸ produtos padronizados, sem grandes distinções. 1kg de soja no Brasil é o mesmo que 1kg de soja nos EUA ou na China. Acreditamos que estamos vivendo um ciclo longo de alta de preços desses produtos. Uma das principais bolsas que negocia commodities no mundo é a CME, Bolsa Mercantil de Chicago. A CME foi fundada em 1889, originalmente como um balcão de negociação de produtos agrícolas, e é hoje a maior bolsa de opções e futuros do mundo. Em 1986, ainda quando as negociações eram feitas por operadores de pregão in loco, a CME recebeu a visita de três jovens estudantes cabulando aula: Ferris Bueller, Sloane Peterson e Cameron Frye, personagens de “Curtindo a vida adoidado”. No filme, os três jovens fogem da escola e vão aproveitar o dia livre, passeando pela cidade em uma Ferrari vermelha conversível. Sobem no então Sears Tower, na época o prédio mais alto do mundo, visitam o Instituto de Arte de Chicago e assistem uma partida de beisebol do Chicago Cubs. Edward Rooney, diretor da escola, passa o dia tentando desvendar, sem sucesso, a trapaça. “A vida se move bem rápido. Se você não parar e olhar ao seu redor de vez em quando, você pode perdê-la.” – Ferris Bueller Um equilíbrio de três pratos No mercado de ações, vemos uma constante interação entre três agentes diferentes: 1) Investidores, que podem alocar seus recursos em diferentes empresas ou setores, 2) Emissores, que são as empresas listadas em bolsa, e 3) Governantes ou reguladores, que tentam ao longo do tempo suavizar os movimentos de mercado e da economia. Excessos acontecem quando investidores ficam eufóricos demais, não ligando para os preços pagos nas ações. Empresas projetam crescimentos exagerados e se endividam para aumentar ainda mais esse crescimento. Governantes permissivos aceleram o crescimento econômico, às vezes abusando dos gastos fiscais e do descontrole da inflação. Normalmente, essa combinação de fatores sinaliza picos de mercado. No extremo oposto, existem os finais das crises. Entre esses três agentes, os únicos que conseguem acabar com as crises são os governantes. Como escrevemos em março do ano passado, os mercados param de panicar quando os governantes começam a panicar.
Os investidores
Sobre os investidores, vemos dois aspectos principais: preço e posicionamento.
Quando olhamos o preço, não olhamos meramente o preço dos índices ou das ações. Podemos olhar o preço de diversas formas diferentes. A mais comum é o índice Preço/Lucro. Aqui, percebemos que esse índice está próximo das máximas nos EUA, mas ainda em níveis bastante deprimidos no Brasil.
Quando nos referimos ao posicionamento, estamos interessados em avaliar o nível de otimismo ou pessimismo dos investidores. Um dos indicadores mais amplos que olhamos é a alocação em renda variável da indústria de fundos. Apesar do aumento nos últimos anos, a migração para ações ainda tem espaço para andar. Investidores ainda parecem comedidos.
Os emissores
As empresas listadas, em sua maioria, estão bem. O gráfico abaixo mostra uma métrica de expectativa de geração de caixa livre (geração de caixa operacional (EBITDA) – investimentos) para o Ibovespa. É interessante notar como entre os anos de 2008 e 2016, a geração de caixa quase não mudou. A forte aceleração no último ano aconteceu principalmente pela alta do dólar e dos preços das commodities.
As empresas listadas não estão alavancadas, têm seus diferenciais competitivos ainda mais claros, estão gerando muito caixa e exercendo sua responsabilidade social. Isso explica um aumento de 37% nos dividendos pagos nos primeiros quatro meses do ano em comparação a 2020 (excluindo bancos). E também ao crescente movimento de consolidação em várias indústrias diferentes, como telecom, saúde, varejo e agronegócio, por exemplo. A vida parece bem animada deste lado. Os governantes Cabe aos governantes servir de pêndulo para os mercados, ora estimulando, ora desacelerando a economia. Aspectos políticos também influenciam, pois regulamentação, tributação e política econômica são fatores determinantes para o crescimento das empresas. No Brasil, o ambiente político continua volátil. Porém a aprovação do orçamento abre espaço para outras reformas e agendas avançarem. Nos EUA, os primeiros 100 dias do governo Biden foram marcados por pacotes de estímulos à economia.
O Fed, banco central americano, segue também com uma política estimulativa. Em seu último discurso na semana passada, Jerome Powell afirmou que ainda é cedo para qualquer tipo de discussão de retirada dos estímulos. O gráfico abaixo mostra o índice das condições financeiras nos Estados Unidos. Elas continuam bastante frouxas, ou seja, estimulativas.
Em uma interessante inversão de papéis, os comentários do xerife do mercado encontraram investidores mais céticos. É como se Ed Rooney autorizasse Ferris Bueller a sair da escola em um dia de prova, para que ele curta um dia de sol. E Ferris, ícone da juventude dos anos 80/90, não sabe se aceita ou não. Nas próximas cartas, exploraremos um pouco mais a interação desses três agentes. O futuro O ritmo da vacinação continua alto nos EUA e deve se acelerar em outras regiões do mundo, como Europa e Brasil. Ainda há riscos de novas cepas retardarem a recuperação econômica global, como os dados recentes na Índia mostram. As políticas econômicas estimulativas dos governos devem se manter, suportando os preços dos ativos de risco. Desde o início, o Dahlia Total Return teve um retorno acumulado de 84,9% (início em mai/18), o Dahlia Ações de 38,7% (jun/19) e o Dahlia Global Allocation de 36,5% (dez/19). Obrigado pela confiança, Dahlia Capital.
CRÉDITOS FINAIS:
Foto: Shutterstock
Gráficos: Bloomberg e Dahlia Capital
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